Uma igreja que se reinventa, entrevista pastora Maria Eduarda

Entrevistamos a pastora Maria Eduarda Titosse.

A pastora Maria Eduarda é pastora na Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal há vários anos.

Actualmente é pastora na Igreja Presbiteriana do Bebedouro e na Igreja Presbiteriana de   Portomar. É  Vice-Presidente da Comissão Executiva da IEPP, responsável pela Região Protestante do Centro e também de diversos projectos com mulheres, crianças e jovens. Além disso dinamiza projectos na área musical e outros na área ecuménica.

Nesta entrevista fala-nos das diversas formas encontradas para ser Igreja neste tempo de templos fechados, na proximidade e criatividade que envolve pastores e comunidades. As reuniões online da Comissão Executiva, das pastorais, de escola dominical…

Num tom positivo e construtivo lembra-nos “que Deus chama-nos, para que cada um de nós o sirva, no tempo, no local e nas circunstâncias em que vive. A nós coube-nos ser discípulos nestes dias de incerteza.”

IP (Igrejaprotestante.pt) – Pastora Maria Eduarda, vivemos tempos diferentes?

ME- Vivemos tempos de morte, o que nos ajuda a pensar a sério na vida. Quando a nossa vida passa sem grandes abalos ou solavancos, temos a tendência para viver sem pensar, apenas reagindo. Este é um tempo terrível: de mudanças incontroláveis, de medo, de morte que se torna muito presente. E isto obriga-nos a pensar nas razões e propósitos da nossa vida.

IP- Que alterações provocou na vida das comunidades?

ME- As comunidades deixaram de se reunir presencialmente. Temos saudades uns dos outros. Temos saudades da rotina, que por vezes nem apreciávamos devidamente. Não sabes quando ou se, voltaremos “à normalidade.” Sentimo-nos num intervalo da vida. O que aconteceu passou e não voltaremos a viver desse modo, e não sabemos muito bem o que nos espera.

IP – Quando olhamos para trás temos a sensação de que as igrejas ficaram mais unidas, apesar de não terem o templo para se encontrar….

ME-Penso que essa avaliação só poderá ser feita à posteriori. O ser humano é imprevisível. O que eu sinto neste momento é que as pessoas estão a pensar mais em Deus. Estão a questionar-se sobre o sentido das rotinas e do uso do seu tempo… sinto que Deus se tornou mais presente. Mas a história e a Bíblia ensinam-nos, que depois das tempestades, as pessoas têm a tendência para esquecerem o temporal e voltarem aos hábitos que as afastam de Deus. A história nos ensinará se estes dias irão servir para uma mudança de paradigma, ou é apenas um intervalo sem consequências.

IP – Temos relatos de famílias que recomeçaram a fazer cultos domésticos e algumas vezes juntando membros da família que habitualmente não participavam….

ME- Sim é verdade. Há pessoas que telefonam regularmente a outras que estão mais sozinhas, muitas pessoas pediram-me os números de telefone de irmãos com quem se encontravam na igreja, mas de quem não tinham o telefone, pois sentem a necessidade de lhes fazer companhia.

Muitas pessoas fizeram o Ágape na sua casa, tomaram a ceia em família talvez pela 1ª vez. Uma senhora contou-me que fez o memorial do lava-pés, a 2 senhoras de quem toma conta. As pessoas enfeitaram as suas portas de suas casas com cruzes e flores. Partilharam as caminhadas de reflexão com vizinhos e familiares.

O Facebook este ano encheu-se de mensagens de Páscoa e muitos crentes postaram a afirmação de fé: Cristo ressuscitou! Sinto que nesta Páscoa, o Evangelho transbordou para fora das paredes do templo, e isso foi muito bonito de se ver.

IP – A pastora Maria Eduarda, juntamente com outras colegas pastoras, têm sido responsáveis por muitas actividades e iniciativas nesta altura, quer falar um pouco do que tem sido feito. Tem havido muita criatividade….

ME- Os tempos divergentes e difíceis levam-nos a reinventar a fé. E se algo de bom aconteceu no meio desta tragédia, foi que nos empurrou para um testemunho diversificado e mais abrangente.

Saímos de portas e fomos onde estavam as pessoas. O que na verdade é a ordem do evangelho: IR. E não esperar que as pessoas venham ter connosco.

IP – O que há de novo, a desenvolver-se?

ME- As iniciativas da IEPP dividem-se em 2 frentes: a digital e a física.

Na frente digital criámos uma presença organizada nas redes sociais, criámos um canal no YOUTUBE, https://www.youtube.com/channel/UCX0ppJzxk6s_LPfLq9nf9Aw/videos?view_as=subscriber

e partilhamos os nossos conteúdos, nas diversas redes sociais. https://www.facebook.com/IgrejaEvangelicapresbiterianaPortugal/

Passámos a ter as nossas reuniões de executiva e as pastorais onlineCriámos conteúdos de música e mensagem.

Na frente física: distribuímos em papel devocionais diários e marcadores bíblicos,  sobretudo a pensar na igreja que não trem acesso a meios online.

No Bebedouro, onde 2 senhoras continuam a enfeitar a igreja dominicalmente, fiz um postal com a foto da cruz enfeitada no domingo de Páscoa e distribuí por todos os membros.

Todos os pastores fazem um acompanhamento telefónico semanal de todos os membros da igreja. Não há ajuntamento. Mas estamos presentes.

IP – Mesmo para as crianças, não podendo fazer actividades de Páscoa, encontraram forma de fazer escola de férias online. Quer comentar e explicar? Como está a decorrer esta nova experiência?

ME- Deu-se início a uma escola dominical online na zona sul. Eu reúno-me com as crianças e jovens pelo zoom, e a APEC (Aliança para a Evangelização das crianças), nossa parceira nos campos bíblicos criou um canal no YOUTUBE, https://www.youtube.com/feed/subscriptions que tem uma presença quase diária junto das crianças.

IP – Que mensagem quer deixar para as suas comunidades e para a IEPP?

ME- Deus chama-nos, para que cada um de nós o sirva, no tempo, no local e nas circunstâncias em que vive. A nós coube-nos ser discípulos nestes dias de incerteza.

Nos dias de incerteza e dor, devemos fazer o que somos chamados a fazer em todos os dias da nossa vida: Busquemos a Deus, e Ele nos ajudará a encontrar respostas e caminhos.

Desde sempre, em qualquer época, em qualquer circunstância aquilo que Deus me pede é: Ouve-me, meu filho. Eu sou o teu único Deus. E qual a tarefa a que somos chamados? Amar a Deus, de todo o coração, de toda a alma e com todas as minhas forças. O que temos que fazer? Ouvir e Amar. Ouvir o que Deus quer de nós, ver que é preciso fazer. E, amar. Amar a Deus e ao meu próximo como a mim mesmo. E este mandamento: Amar… não depende das circunstâncias de paz ou guerra, de abundância ou de dificuldade, de vida ou de morte. Nestes dias em que o mundo não sabe o que fazer, nós cristãos sabemos. Deus nos envia a cuidar, servir, partilhar, louvar, anunciar as Boas Novas e a sobretudo… amar. (1 Coríntios 13)

IP- Muito obrigado, pastora Maria Eduarda, pela sua partilha. Ficam os seus desafios e motivação.

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