A Paz seja connosco – João 20:19-31

A Paz, em tempos de indefinição e incerteza, é algo que todos procuramos. Quanto mais intensa  a forma como vivemos a vida e  dificuldades encontramos , mais necessitamos de Paz.

Todos os domingos um pastor da IEPP partilha connosco uma reflexão.

A Paz seja connosco!

É um prazer estarmos aqui, juntos.

  • oração

Obrigado Senhor pela vida, pelo dia de hoje, por todos aqueles que fazem a nossa vida e contribuem para ela.

Obrigado pela igreja que fazemos e nos acolhe.

Prepara os nossos corações para escutar a tua palavra. Amém.

  • Evangelho, João 20:19-31

“Na tarde de domingo, após a morte de Jesus, os discípulos estão juntos e têm as portas trancadas com medo.” João 20:19

 

Olhemos para os discípulos:

Estão juntos? Sim, mas fechados e de portas trancadas. Agregados pela tristeza.

Como se sentem? Olham uns para os outros e interrogam-se sobre o passado.

Conseguirão pensar no futuro? Não. Têm os corações trancados.

A realidade assusta-os. Que virá a seguir? Como vamos lidar com tudo?

Em cada um deles germina uma tensão que fere e agride, há um desequilíbrio que paralisa.

 

É aqui, nesta situação, que o inesperado irrompe e surpreende.

Veio Jesus, pôs-se de pé no meio deles, e diz-lhes “Paz para vós!” João 20:19

Olham-se. Sentem emoção.

Os seus olhos tocam as mãos e o peito perfurado. Mas, isso agora já não importa. Ele está ali, de pé.

“…alegraram-se ao ver o Senhor” João 20:20

  • Jesus é o Cristo

O Evangelho de João anuncia assim que Jesus ressuscitou. Motiva a comunidade a acreditar que “Jesus é Cristo, o filho de Deus e, crendo, tenham vida n’ Ele.” (João 21:31)

Percebem, naquele instante, que Deus, em Jesus, veio ao encontro da história humana.

Veio para nos recuperar, reconciliar, dar vida, sentido e amor.

Revivem muitas das coisas que sabiam, mas não percebiam, e assim, rios de água viva brotam nos seus corações. É a Pascoa dos discípulos. O acontecimento do encontro.

 

  • Conseguimos ver /sentir a mudança nos discípulos?

Nesta experiência de fé, o equilíbrio entre a realidade que os cerca e a capacidade de viver, em Esperança e Confiança, é restabelecido.

Olhando para o exterior sabem que as razões para ter medo continuam as mesmas, a ameaça que levou Pedro a negar 3 vezes a Jesus, mantem-se;

porém a presença de Jesus, no meio deles, em pé, devolve-lhes a capacidade de viver e o sentido das suas vidas.

Estão preparados para caminhar os percalços da vida, estão disponíveis para abrir o seu coração à presença do Espírito, da Sabedoria.

Estão prontos para reviver a alegria da primeira chamada, do primeiro amor ao evangelho.

A Paz seja convosco.  Que Paz?

A Paz como certeza de que Deus está na vida de cada um? Sim!

Uma paz que nos afaste das dificuldades, dos riscos, que nos retire deste mundo? Não.

Conhecem as palavras de Jesus “no mundo tereis aflições. Mas tende coragem: eu venci o mundo. Tenham Paz em mim” (João 16:32-33)

Estas palavras geram alegria, mesmo no meio da tempestade, geram confiança, esperança.

Medo? Perigos? subsistem.

A Alegria ilumina o dia.

Descobrimos a Paz que vem de dentro, do equilíbrio gerado pela relação com Deus nas nossas vidas.

A Paz de onde floresce a visão do Reino de Deus, a Paz que treina os corações, os olhos, as mãos e os ouvidos para sentir a vida na sua plenitude, diversidade, complexidade e fascínio.

A Paz que nos prepara para no meio do tumulto sentir a brisa, o sopro do Espírito de Deus.

A paz que nos segreda “bem-aventurados os pacificadores”.

A Paz da descoberta de Deus no dia a dia, no centro da vida vivida e do mundo.

Jesus mostra as suas feridas, mas também a sua vitória sobre o mal e o sofrimento.

No tumulto descobrimos o que significa paz, na fome o que significa o pão nosso de cada dia, na doença a alegria da saúde, na solidão a riqueza do encontro, dos afetos.

Anima-os: “Sopra sobre eles o Espírito Santo”. (Mateus 5:3-12)

A experiência da Ressurreição e do Pentecostes andam de mãos dadas.  A fé, mais do que um saber, é uma caminhada, uma interrogação, uma dúvida, uma relação, vivência. Ao tatear o caminho, desvela-se a presença de Deus, o sentido dos nossos passos.

 

  • E nós, queridos irmãos,

Jesus chega a cada um de nós, aos nossos corações, às nossas turbulências e encruzilhadas e convida-nos à Paz. Chega pela Palavra escutada, vivida, dita, orada.

Sentimos a sua presença?

Às vezes não é fácil abrir os nossos corações a esta Paz, a este diálogo.

O medo, a incerteza, fecham as nossas vidas, tal como agendas demasiado cheias ou planos demasiado rígidos, verdades imutáveis, sem espaço para construir a vida na plenitude divina. Dogmas sem espaço para integrar “seja feita a tua vontade”.

A incerteza paralisante ou certezas fechadas, bloqueiam o sopro do Espírito, a novidade do Reino, da Vida percorrida por Jesus.

O ritmo da fé difere de pessoa para pessoa. Uns dizem “Vimos o Senhor” outros dizem “Preciso de tempo”, uns correm a anunciar, outros necessitam de parar, de fazer silêncio na sua presença.

 

  • Mas o que nos diz o texto de hoje?

Jesus entende os nossos estados de espírito, ele viveu-os, perturbou-se por diversas vezes, zangou-se e chorou. (João 11:32-35)

O texto de hoje mostra a paciência de Deus, em Jesus Cristo.

Fala com Maria Madalena junto ao tumulo, conversa com os discípulos a caminho de Emaús, surge no meio deles, em casa, na praia, nas suas vidas.

Dá tempo e uma semana depois, aproxima-se de novo dos discípulos reunidos.

Vem para acolher e animar, especialmente a Tomé e a cada um de nós: “Não te tornes descrente, mas sim crente”

E a todos diz “bem-aventurados sois ao crer.” (João 20:26-27)

  • Uma missão

Desta forma resgata-os da paralisia e dá-lhes uma missão.

É esta paciência, este ato litúrgico comunitário, de estar juntos com Cristo,   que faz  caminho em nós, exercita a partilha das dúvidas e medos geradas pelo facto de vivermos e nos leva a lidar com elas com esperança e alegria.

Escutemos as palavras inquietantes mas desafiadoras de Jesus: “Assim como o Pai me enviou, envio-vos a vós” João 20:21

Sentimos esta chamada? Brota em nós a alegria e a confiança?

É uma alegria diferente, uma alegria que contém em si a consciência das dificuldades e desafios da vida. “Tende bom animo”.

  • Dificuldades sempre vamos ter

Lembram-se dos profetas? Algum teve uma vida calma?

Todos passaram por desafios e dificuldades enormes. Viver a vida é um desafio.

A inquietação, é o palco que pensa a vida, que testemunha e anuncia o Reino.

Todos os profetas podiam dizer…” Rios de lagrimas correm dos meus olhos…” (Lamentações 3:48)

Mas também, como Jeremias e Paulo “Ai de mim se não o anunciar!”

  • Estamos acompanhados

Deus sempre vem ao nosso encontro, levanta-nos e envia-nos em seu nome. Mesmo quando dizemos, tenho medo, não sei falar, “ele põe-se de pé e diz-nos “Tende Paz em mim”.

  • 2020 desafia-nos intensamente.

São muitos os desafios que temos pela frente:  na saúde, emprego, economia, ciência e política. Até na forma de vivermos.

Mas, como igreja, temos um desafio estruturante sobre solidariedade, dignidade humana e o sentido da vida.  Não percamos a oportunidade de pensar e sentir a vida.

Fiquemos vigilantes. Jesus põe-se de pé no nosso meio, nas nossas igrejas, corações e sociedades.

  • Da paralisia à missão

Jesus transformou um grupo de pessoas assustadas em pessoas confiantes e missionárias.  Transformou homens e mulheres manietados pela morte, poder, religião, relações sociais, economia, em pessoas livres, anunciantes de vida, do amor de Deus. Precisamente porque passaram pelo sofrimento  cruz e pela alegria da ressurreição.

Naquele domingo eles descobriram   o significado de “pai nosso”, “venha o teu reino” e “seja feita a tua vontade”.

Que possamos também ficar de pé, em qualquer situação, ser luz que proclama, pela vida, a Paz de Deus.

Que o sopro de Deus nos toque, penetre as nossas entranhas e, como Tomé, possamos dizer “Meu Senhor e meu Deus!”

 

Saibamos fazê-lo em comunidade. Que caminha. Que na vida concreta, nova todos os dias, se abre á novidade do Espírito.

Amém.

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