Mensagem de Natal do Presidente

MENSAGEM DE NATAL DO PRESIDENTE DA IEPP

Prezados irmãos e irmãs da IEPP,

Uma criança que nasce é o mote que nos desafia a refletir, numa circunstância muito particular da nossa história pessoal e coletiva. Perante as ameaças que se verificam aos mais diversos níveis, no mundo, percebemos a importância de afirmarmos  a esperança e o futuro.

Celebrar o Natal, em circunstâncias diferentes do que nos habituamos, obriga-nos necessariamente a meditar a partir da nossa realidade existencial, porque, toda a reflexão verdadeira e honesta, começa invariavelmente, não como uma afirmação de poder, mas como reconhecimento da fragilidade e finitude humanas.

Há algo diferente e genuíno na nossa festa de Natal pelas razões referidas, ou seja, porque de certo modo todos estamos mais frágeis, e não há como iludir esta circunstância, posto que os decretos com as obrigações e limitações da liberdade em nome da segurança sanitária são suficientes para percebermos os condicionalismos e limitações em que nos encontramos todos.

Porém, mais do que referir o que nos suscita o presente em termos circunstanciais importa que na nossa celebração possamos por em relevo o que mais conta: a celebração do Nascimento de Jesus, não como referência ao acontecimento histórico, como se de uma efeméride se tratasse mas tendo em vista tudo o que o surgimento de Jesus no seio da humanidade significa enquanto afirmação do novo, de esperança e de futuro.

Assim o nascimento do menino Jesus, muito mais do que efeméride, realiza e torna presente de modo efetivo a essência da vida do cristão na medida exata em que esta se pauta pela exigência constante de uma boa nova nascente em cada situação. O que se trata então é de uma forma de memorial que não é do passado mas que se quer presentificar, é um outro aspeto da Páscoa o que ora se põe em evidência.

O Natal é e será sempre a festa do presente e da esperança que alicerçando-se em Cristo rasga os caminhos do futuro e da plenitude.

Com Jesus vamos perceber, pela primeira vez, na história humana, que a vida é uma possibilidade e que se pode pôr como escolha consciente. Que a paz poderá vencer por sobre todos os destroços criados e recriados pelo ódio dos homens. Que as mais diversas ameaças poderão ser ultrapassadas e que o amor poderá pela sua força intrínseca vir a tornar-se uma presença efetiva na sua igreja e no mundo.

O desafio é sempre o mesmo, é o do amor. Mas a compreensão desta chave está em Jesus através de quem Deus vem mostrar um outro lado do humano e apontar para outro caminho, o caminho da santificação sem o alheamento da realidade.

É nesta dimensão aparentemente paradoxal que se articula a profunda mensagem do Natal. Do Natal que é o da Luz que rompe a escuridão da tristeza e da solidão, da injustiça e da opressão, da vilania e das assimetrias que em bom rigor nos inquietam a consciência.

O Natal de Jesus é o daquele que veio e vem, sem qualquer vantagem, para se imiscuir em todos os desertos do sofrimento e da dor procurando remir o tempo à luz de uma nova compreensão da vida. É o Natal do que vem para viver a humanidade até às últimas consequências sendo ele o próprio Deus e podendo por isso subtrair-se à dor e à morte. É o momento da história da humanidade de Deus e da divindade do homem manifestando-se sob uma incontornável luz de uma verdade.

É esse Deus eterno que em Jesus e ainda antes de nascer do ventre de uma mulher, começa por submeter-se às leis caprichosas duma governação estrangeira a todos os títulos. Era necessário, na ótica dos políticos da época e por razões de política tributaria proceder a um recenseamento. Jesus não era nascido e por imposição do poder dominante viaja com seus pais até Belém terra de origem de José. Aí nasce como predissera a profecia e, de novo é a vontade de Deus que se sobrepõe à vontade do homem que, mesmo estrangeiro e poderoso, não deixa de ser pequeno e mesquinho face ao plano de Deus para a humanidade.

Mas, mais do que isso, nasce sem um lugar para nascer. Não havia lugar para ele na estalagem. É deitado numa manjedoura , o tabuleiro onde os animais recebiam o alimento serve-lhe de primeira cama. A manjedoura que evoca a realidade do mundo. Nasce para os pobres no meio de pobres e de uma família pobre. Por isso é a estes pobres que primeiramente é anunciado o seu nascimento. Aos pastores daquela região, desprezados pela sociedade, é-lhes anunciada a boa nova. O surgimento do salvador do mundo.

Mas ele não vem com poder mas envolto em panos e deitado numa manjedoura. É pois este o sinal da sua distinção. Vem na fragilidade e na simplicidade. A intervenção dos anjos é demonstrativa da entrada do messias na história da humanidade. E, com a sua vinda é a paz que vem desabrochar na terra . Paz que redunda igualmente em Glória a Deus no mais alto dos céus. Do Deus que agora realiza a etapa mais importante da história sua e que desde sempre ele quis que coincidisse com a nossa própria.

Por isso o Natal é a festa da vida. Da vida que Maria dá à luz e da vida que é também a nossa e que desde agora se torna destino de todos os que abrem para Jesus um lugar no seu coração.

É a festa da vida de Jesus cujo nome significa salvador, cujo projeto é o de dar vida quebrando o jugo da opressão, implantando uma ordem de paz, justiça e liberdade.

Jesus nasce , vive entre nós, vive em nós, lutando para que ainda hoje possa surgir um povo seu que em exclusivo se dedique a praticar o bem, fazendo a paz a justiça, abrindo assim lugar para a plenitude da vida.

Que o Senhor das nossas vidas a todos providencie saúde e paz!

Lisboa, 24 de dezembro 2020

Paulo de Medeiros Silva (pastor)

× Como posso ajudar?