PROGRAMA ECO IGREJAS PORTUGAL
O programa Eco Igrejas Portugal, assinado no dia 12 de Junho, aquando do 50º aniversário do COPIC, assume-se como uma cooperação de diversas entidades, tais como A Rocha, Aliança Evangélica Portuguesa, O COPIC- Conselho Português de Igrejas Cristãs, a Rede Cuidar da Casa Comum e a Conferência Episcopal Portuguesa.
Este projecto tem como fundamento a progressiva tomada de consciência das questões ecológicas como centrais à vida de toda a criação e harmonia da mesma. Diversas Igrejas em França, têm desenvolvido um profundo trabalho nesta área, tendo mesmo criado um Selo Verde nas igrejas, com dezenas de pontos a considerar no quotidiano da vida cristã e comunitário.
O Conselho Mundial de Igrejas, a Comunhão Anglicana, a Rocha, o Papa Francisco, têm vindo a prestar uma atenção especial às questões do cuidado com a criação. A tomada de posição dos investidores dos fundos de pensões da Igreja Anglicana em apenas investir em empresas com responsabilidade ambiental, até à Encíclica Laudato Si (já com 6 anos!) levaram, a diversas iniciativas da Igreja Lusitana em Portugal e à criação do movimento e grupos, Cuidar da Casa Comum.
Todo este movimento tem gerado novas formas de recuperar a leitura bíblica, nomeadamente os textos que refletem sobre a criação. Eco teologia, é uma expressão que nos insere na compromisso da integridade de uma espiritualidade de plenitude onde a dignidade humana se faz na relação e interdependência, onde todos somos parte e cuidadores.
Em Setembro teremos, mais uma vez, as igrejas voltadas para a celebração do Tempo da Criação . Acontecerá em todo o mundo de quarta – feira, 1º de setembro a segunda-feira, 4 de outubro e o tema para 2021 é “Uma casa para todos? Renovação do Oikos de Deus ” . Esta iniciativa ecumênica global é “um momento pensado para renovar nosso relacionamento com nosso Criador e com toda a criação, celebrando, mudando e comprometendo-se juntos para agir”. O tema da “casa para todos” é representado pela tenda de Abraão e Sara, que acolheu três estranhos, que na verdade eram anjos (Gênesis 18). Ela nos convida à hospitalidade para com os humanos e todas as criaturas em nossa casa comum, a casa (oikos) de Deus. A escolha deste símbolo é uma grande oportunidade de vivenciar esse momento com o grupo de escoteiros, por exemplo!
Os materiais de preparação estão disponíveis abaixo no site da Église Verte.A nível internacional, o simbolismo da tenda é forte e propõe-se a instalação de tendas reais, pequenas ou grandes, nas nossas igrejas ou nas nossas festas ao ar livre.
Ambiente – A ROCHA e tem como parceiros a Aliança Evangélica Portuguesa, o COPIC (Conselho
Português de Igrejas Cristãs), a REDE Cuidar da Casa Comum e a Conferência Episcopal
Portuguesa.
Este programa tem os seguintes objetivos gerais:
ENQUADRAMENTO DA PARCERIA NO ÂMBITO DO PROGRAMA ECO
IGREJAS PORTUGAL
1 Enquadramento geral e apresentação do programa Eco Igrejas
Portugal
O programa Eco Igrejas Portugal é liderado por uma Organização Não Governamental de
Ambiente – A ROCHA e tem como parceiros a Aliança Evangélica Portuguesa, o COPIC (Conselho
Português de Igrejas Cristãs), a REDE Cuidar da Casa Comum e a Conferência Episcopal
Portuguesa.
Este programa tem os seguintes objetivos gerais:
● Promover a ética da sustentabilidade, contida nos princípios ecoteológicos do cristianismo,
na prática concreta das comunidades cristãs;
● Atender a uma adequada formação ao nível dos respetivos fundamentos bíblicos e
teológicos, em particular no âmbito das gerações mais jovens, em ordem ao compromisso
concreto na salvaguarda da criação;
● Partilhar exemplos de boas-práticas que possam ser tidos em conta na tomada de decisão
orientada para a sustentabilidade ecológica das comunidades cristãs;
● Facilitar o acesso à opinião de peritos em transição ecológica que efetuem recomendações
concretas no âmbito de uma ecologia sustentável e integral;
● Promover a comunicação da sustentabilidade das comunidades cristãs, locais de culto e
equipamentos em Portugal;
● Criar impactos ambientais positivos de grande escala, não só através da participação dos
públicos internos das comunidades cristãs, mas também do público em geral em ações
ambientais concretas e mensuráveis;
● Contribuir para a mudança de estilos de vida na linha de uma ecologia sustentável e integral.
O programa Eco Igrejas Portugal baseia-se na introdução dos Indicadores de Sustentabilidade A
ROCHA no contexto português. Estes indicadores constituem um instrumento de diagnóstico,
educação e gestão ambiental/melhoria contínua e comunicação da sustentabilidade ecológica
das comunidades cristãs. Foram originalmente desenvolvidos e implementados no Reino Unido,
há mais de cinco anos, mas têm vindo a ser utilizados noutros países, como por exemplo em
França no projeto Église Verte, no qual têm contado com uma forte adesão por parte das Igrejas
(com mais de 550 comunidades com o selo verde) e apresentado impactos ambientais positivos.
A disponibilização dos indicadores no contexto português carece de um trabalho que permita a
sua aferição e adaptação às respetivas comunidades cristãs, bem como a organização de uma
equipa de especialistas que efetue o acompanhamento em proximidade da sua utilização. Será
ainda necessário desenvolver todo o trabalho de comunicação dos indicadores, não só para a
adesão das comunidades cristãs à eco-certificação, como para a divulgação da sustentabilidade
ambiental das comunidades cristãs em Portugal.
A pertinência de desenvolver o programa em Portugal neste momento prende-se com o facto
de existirem já algumas comunidades de fé a adotarem as práticas operacionalizadas na
multidimensionalidade dos indicadores de sustentabilidade A ROCHA, mesmo as mais exigentes
do ponto de vista do envolvimento de recursos humanos e financeiros. Espera-se, assim,
contribuir para dar visibilidade às comunidades que já adotam estas práticas ambientais,
motivando-as para a melhoria contínua. Também consideramos que esta visibilidade e destaque
poderão promover o mimetismo social entre as comunidades cristãs e outras no que respeita a
tais práticas ambientais. Uma das lógicas desta proposta centra-se, assim, na ética do exemplo,
na necessária coerência entre a defesa dos princípios teológicos e filosóficos (ética dos
princípios) e a prática concreta das comunidades. A conversão ecológica não passa apenas pelo
modo de pensar, mas também pelo modo de agir.
Outra das lógicas desta proposta é o seu caráter participativo, num trabalho e reflexão
conjuntos, entre várias comunidades cristãs, assumindo o campo da ecologia integral como um
caminho de testemunho comum. Acolhem-se assim as reflexões e apelos vindos de múltiplos
quadrantes, desde o Conselho Mundial das Igrejas, ao Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla,
com a proposta do Tempo da Criação, ao Arcebispo de Cantuária Justin Welby, ou ao
Movimento de Lausanne e a Aliança Evangélica Mundial com a Consulta Global sobre o Cuidado
com a Criação (Jamaica, 2012), que desenvolve o Compromisso da Cidade do Cabo (2010), ou
ainda ao papa Francisco, com a afirmação veemente da urgência da ecologia integral (Laudato
Si’, de maio de 2015) e da construção de uma nova fraternidade (Fratelli tutti, outubro 2020).
No mesmo sentido têm ido as assembleias ecuménicas mundiais e europeias que, desde 1974
em Bucareste (CEC, Com. Igreja e Sociedade), Conferência do C.M.I. em Seul de 1990 (lança o
programa Justiça Paz e Integridade da Criação), Basileia (1989, com protestantes, católicos e
ortodoxos) têm acentuado a centralidade do tema do respeito e cuidado pela criação com as
dimensões da justiça e da paz, o mesmo vindo plasmado nos compromissos e desafios da Charta
Oecumenica de 2001.
A já larga reflexão bíblico-teológica desenvolvida neste contexto tem contribuído para
ultrapassar visões limitadas ou mesmo erradas da doutrina cristã acerca da criação, que foram
muitas vezes pretexto para sustentar o domínio irracional e egoísta do ser humano sobre a
natureza, alimentando representações sociais (worldviews) que têm contribuído para a crise
ecológica em que nos encontramos.
Apesar de uma certa tendência na era da modernidade e pós-modernidade continuar a insistir
no sentido da marginalização das religiões da esfera da vida pública, existe hoje também uma
crescente consciência da importância do seu envolvimento nos problemas sociais e ambientais,
reconhecendo-se o diálogo entre fé e cooperação inter-religiosas como oportunidade de trazer
de volta e sedimentar os valores éticos que contribuem para recriar novas conceções do ser
humano num universo sustentável, pacífico e justo.
Com efeito, a relevância de se trabalhar diretamente com as comunidades de fé para a proteção
ambiental tem vindo a ser evidenciada por instituições como as Nações Unidas ou o Banco
Mundial, que afirmam claramente a importância das redes entre as instituições da sociedade
civil (lembramos a fundação de um dos parceiros, A ROCHA em 1983), assim como as
organizações de fé, apontando-as como uma das 50 ações mais importantes para salvar o
planeta (UNEP, 2016; World Bank, 2006). A importância desta ação prende-se com o facto de,
na atualidade, uma vasta maioria de pessoas serem membros de grupos religiosos,
fundamentando o seu comportamento nos valores das respetivas tradições.
O desafio será assim o de integrar a preocupação e o cuidado com a casa comum, numa
perspetiva integral, no quadro de tais princípios religiosos e espirituais, em ordem a conduzir a
uma mudança de comportamentos e atitudes. Contrariando populismos e outro tipo de
apropriações e manipulações das preocupações ambientais, as tradições religiosas podem
conduzir, pelo contrário, a uma ética do cuidado, responsável e solidária.
Por seu lado, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, nas suas diretrizes contidas
no projeto Faith for Earth das Nações Unidas, apela à dimensão holística da sustentabilidade nos
locais de culto. Isso significa que, para além da importância de introduzir melhorias do ponto de
vista da poupança e salvaguarda de recursos e transição para uma economia circular nos locais
de culto (templos, mosteiros, igrejas, santuários, espaços comunitários, quintas e reservas,
entre outros), se devem também propor orientações de estilo de vida com base nos valores
contidos nos princípios ecoteológicos e que se transmitem tanto em momentos de caráter
celebrativo como formativos.
Apesar do reconhecimento do potencial dos princípios ecoteológicos como importantes
elementos catalisadores da atuação ecológica, nem sempre as comunidades cristãs têm obtido
bons resultados no seu papel de testemunhas e agentes de educação ecológica. Entre os vários
fatores responsáveis por esta dificuldade, encontra-se o desconhecimento da reflexão bíblicoteológica no domínio da ecoteologia e da sua aplicação na área das ciências da vida e do
ambiente. Outro problema identificado é a já referida incoerência que por vezes ainda se faz
sentir entre estes mesmos princípios e a ação concreta das comunidades cristãs.
2. A implementação do programa
O programa Eco Igrejas Portugal, ao integrar um instrumento como os Indicadores de
Sustentabilidade A ROCHA, permite efetuar uma avaliação da organização interna das
comunidades cristãs numa perspetiva de melhoria contínua. O uso de indicadores de
desempenho é prática corrente nos sistemas de gestão ambiental modernos, incluindo
frequentemente dimensões de qualidade, ambiente e sociedade. Os indicadores permitem
avaliar o estado e a evolução do desempenho das organizações, sendo uma ferramenta
essencial para a melhoria contínua e facilitadores de uma comunicação clara e sintética, dentro
e fora da organização, sobre o desempenho alcançado.
Apesar deste conjunto de indicadores ter como principal objetivo a avaliação interna numa
perspetiva de melhoria contínua, também contribuirá para a medição e acreditação da
sustentabilidade das comunidades cristãs pela sociedade em geral. Assim, embora a acreditação
ecológica possa vir a estar disponível para um público mais vasto, o principal objetivo, numa
primeira fase, é constituir uma ferramenta de gestão e de educação ecológica das comunidades
cristãs.
A ferramenta que se propõe tem a vantagem de fornecer às comunidades cristãs uma checklist
de boas práticas em várias dimensões:
● celebração e formação;
● gestão de edifícios;
● gestão de outras propriedades;
● envolvimento comunitário e global;
● estilos de vida.
Tal como as designações indicam, incluem-se critérios ambientais de medida direta, como
aqueles que são utilizados para a adaptação dos edifícios, e de medida indireta, como são os
indicadores sociais da sustentabilidade (por exemplo, critérios de escolha de fornecedores
alinhados com os princípios de comércio justo e autenticidade, proteção dos valores naturais e
patrimoniais, autenticidade sociocultural, exploração efetivamente sustentável dos recursos).
Uma etapa decisiva na adaptação dos Indicadores de Sustentabilidade A ROCHA e dos seus
recursos (a checklist de boas práticas convertida numa escala de 5 pontos) é a seleção de itens
que permitam assegurar a fiabilidade ou consistência interna dos indicadores, mas também a
sua validade. A validade está relacionada com a metodologia para a sua agregação. Os
resultados alcançados através dos indicadores devem permitir uma caracterização
suficientemente clara da organização, quer para tomar decisões informadas, quer para proceder
a comparações intra e interorganizações/dioceses/países.
Pretende-se que a metodologia permita, de forma transparente e rastreável, implementar um
sistema de eco-certificação das comunidades cristãs e, ao mesmo tempo, promover a prática da
comunicação dos indicadores alcançados, tanto em termos sincrónicos (em função dos vários
subtópicos) como diacrónicos (evolução das práticas das comunidades ao longo do tempo).
Como horizonte, pretende-se que tais resultados possam ser disponibilizados através de uma
aplicação web.
3. Indicadores de impacto do programa
São múltiplos os indicadores de impacto possíveis deste programa que, por natureza, tem uma
abrangência ecológica integral, tocando distintas dimensões, aqui apontadas apenas a título
indicativo:
– Impacto ambiental – incentivo à descarbonização, economia circular e eficiente.
– Impacto social – apoio dos mais vulneráveis, combate à pobreza e às desigualdades
sociais, o acolhimento e integração de minorias étnicas e de migrantes e a consolidação
de comunidades de fé comprometidas com a construção de um mundo mais justo e
fraterno.
– Impacto económico – melhorar o equilíbrio das contas das comunidades cristãs e
aumentar a retenção de proventos económicos para a economia local.
– Impacto cultural – mudança de estilos de vida apoiados em novas maneiras de habitar e
transformar o mundo, e para a salvaguarda e valorização do património material e
imaterial.
4. Destinatários do Programa
O presente Programa apresenta-se como uma plataforma de colaboração em ordem à
conversão ecológica e eco-certificação das comunidades cristãs em Portugal, aberto, pois, à
pluralidade de expressões cristãs presentes no território nacional.
Tal facto não impede, antes sustenta e implica um diálogo com a sociedade civil, tanto ao nível
de outras tradições religiosas, como com pessoas e instituições interessadas e empenhadas no
mesmo cuidado com a casa comum e com a transformação de valores e comportamentos.
Enquadramento e Memorando de Entendimento (Projeto EcoIgrejas Portugal)